quinta-feira, maio 12, 2016

sexta-feira, dezembro 26, 2014

A POESIA DE LEONIDAS MOURA


A nuvem e o vento lasso

E pela manhã a relva dança,
é noite em minha mancha;
e a folia de meus cabelos cachos
sobre a grama em minha sombra.

Não sabe o vento
que tudo sonda
e sacode a lâmina,
espelho d’água cristalino.

Rola na areia branca
com a palidez da espuma,
mistura sal, água e duna.
Ida e volta em meus fios
com a poeira norte
e cheiro de algas
do orvalho de mato
que baila no terreiro
onde eu me acho.
Sobe, oh a minha nuvem
que não sabe tempo.
.

(Leonidas Moura)

A nuvem e o vento lasso

E pela manhã a relva dança,
é noite em minha mancha;
e a folia de meus cabelos cachos
sobre a grama em minha sombra.

Não sabe o vento
que tudo sonda
e sacode a lâmina,
espelho d’água cristalino.

Rola na areia branca
com a palidez da espuma,
mistura sal, água e duna.
Ida e volta em meus fios
com a poeira norte
e cheiro de algas
do orvalho de mato
que baila no terreiro
onde eu me acho.
Sobe, oh a minha nuvem
que não sabe tempo.
.

(Leonidas Moura)

terça-feira, dezembro 23, 2014

EFÊMERAS INCERTEZAS QUE NÃO GOSTAM DO SOL


Tudo em minha esfera                                 
rola e decai
como a solidão de um enxame;
rapto de vultos,
carnívoros que chacoalham
na anormalidade
de meus equinócios...
Estimo o vento
que em seu vai e vêm
engendra minhas desordens
e enquadra as palavras
que não decifro.
Tropeço entre enganos
e em enormes clitóris
contidos nos vértices de meu ego
e o bom sabor,
é saber
que me decomponho
num ser capaz
de ser apenas mais um,
silêncio na sombra,
eclipse de ninguém
menos do que eu...


Luciano Fraga

quarta-feira, dezembro 17, 2014

O QUE PASSA POR MINHA BOCA DE AMANTE


Eu sei,
certas palavras são como ouro,
mas não disponho do vil metal
para comprá-las;
então,
guardo-as e resguardo-me
feito ourives,
faço-me admirador
para depois lançar-me
na conjugação verbal
que requer brilho
tanto para engatar uma rima,
quanto para garimpar
uma anônima pedra lilás,
ou até mesmo dispor
da divina coragem
para dilapidar
a dureza diamantina
de um ditador...



Luciano Fraga

domingo, dezembro 14, 2014

QUALQUER TEMPO PERPENDICULAR

O telefone tocou; era um número estranho, vacilei, mas mesmo assim resolvi atender, era ela... Pensei em dizer que era tarde, imaginei um “foda-se” com todas as letras, pensei: mais uma das paradas indigestas que só o que era sexo que virou amor, trás. Que clichê consumista! Isso não muda o mundo. Eu do lado de cá em total silêncio, - “cê tá me ouvindo, cê tá me ouvindo?” Era ela, não havia dúvidas. Aquele desespero, aquele humor doentio, aquela voz despencando do décimo andar, pasteurizada, rançosa, de quem nunca amou. Quem amou? Quem amou quem? Ela nunca amou ninguém. Era ela. Aquela fragrância rompia a linha de misericórdia como um tiro e invadia minhas narinas, meu sangue, minhas veias e trazia as lembranças: seu andar desleixado. Eu me desdobrava em atenção, embora escutasse suas condolências entre descaso e firmeza. Ela implorava de forma insuportável que eu a entendesse e repetia e repetia: “me entenda, me entenda” e eu pensava em dizer não, mas eu dizia sim, - sim, entendo... Todos os dias... E ela insistia dizendo que havia “ingerido aquelas coisas por amor, creia”. Eu, não tinha mais nada para oferecer senão um “sim, sim” pra ela e para aquela coisa morta que ela pedia que eu entendesse e que só eu sabia que ambas estavam mortas, aquela coisa hemorrágica... Ela insistia em explicar o que não pedia explicações. Nem a coisa, nem eu.
Aquilo foi me levando à exaustão, era um labirinto, agora era ela que não compreendia que eu não estava mais ali, havia tempo que eu estava ausente, literalmente, agora estava ausente fisicamente, pois abandonei cuidadosamente o aparelho telefônico e fui ao banheiro, ela ficou falando só... Retornei, escutei: “Cê tá me ouvindo, cê...” A penúltima vez que a encontrei, ela havia ingerido aquelas coisas... –“Cê tá me ouvindo...” aquilo caindo no vazio, aquele maldito: - - sim, que eu respondia como um faz de conta, aquela vontade de sumir. Na realidade não havia mais ninguém do lado de cá da linha, mas ela insistia, e aquilo se arrastava feito uma serpente anestesiada e eu já estava pronto para descartá-la, bater o dedo, desligar aquele aparelho, quando ela saltou com uma afirmativa, num tom de como eu a tomasse como a culpada daquela ironia:-“ você, apesar de tudo tem uma dívida comigo”, afirmou categoricamente. Embora eu não estivesse mais a fim de ouvir aquela pasmaceira, eu disse novamente sim e curiosamente, mesmo depois que ela roubou todo o meu tempo, perguntei pra mim mesmo, como uma questão exata, o que é que denomina a dor? O que é mesmo? Respondi em silêncio pra mim mesmo: - qualquer sentimento. Ainda tomado por aquele ineditismo, àquela surpresa desagradável que me apanhou de calças curtas, que dívida eu teria com aquela mulher?  Esperei, e ela silenciosa do outro lado aguardava a minha pergunta, aliás, a resposta até hoje me intriga, e eu não resistir e perguntei: afinal o que lhe devo? Ela sorriu com um sarcasmo filho da puta:- você tá me devendo pelo menos, quinze minutos de amor... Como uma bomba me veio a canção do Caetano: “você exasperou...” pensei. O telefone emudeceu, eu apanhei o gelo, coloquei no copo, escutei “O Death” ao vivo no máximo volume pelo resto da noite, só não lembro na voz de quem...

Luciano Fraga


quinta-feira, novembro 27, 2014

PASSAGEIRA


Antes que o poema 
salte com a tristeza 
que suscita
e os versos rimem
com o pesar que apodrece,
é bom que o poeta 
diga num tom 
bem claro,
ante que alguém
grite no escuro:
que o poeta é bem menor
do que a vida
e que a poesia não cabe
em qualquer muro...


Luciano Fraga

sábado, maio 31, 2014

MINÚCIA

Abstraído,
o meu coração abatido
tem andado nas nuvens
e nessa ilusão de céu
invento abismos
e dragões,
leões e cavalos marinhos
em que ando montado
e nesse aprendizado com o vento
que faz eco em meu pensamento,
tudo vai sendo transformado
em ouro e pó...
Agora em meu coração acelerado
o amor é só um indício,
como um vício;
entre a pedra e o limo...

Luciano Fraga

sexta-feira, maio 09, 2014

RIO DE ONDAS

E assim ávida,
a vida vai passando
de palavra em palavra,
sendo reescrita
de letra em letra
a cada redescoberta
e diante de tudo que disfarço
faço um relato imaturo:
nenhuma dor se esgota em mim,
sou abstrato;
e tudo que me faz sentir
o importante não é
o que vem trazido pelo vento,
muito menos o que vem de um tempo
distante,
talvez seja o invisível horizonte,
sacrifício que sacia,
como olhar para algo que desconheço;
assim, acho que mereço
olhar para trás e sorrir
para um rio que vai passando,
ou olhar para frente
e também sorrir
para aquele mesmo rio que já passou...


Luciano Fraga
  

sexta-feira, março 14, 2014



MURMÚRIOS


Tudo pra mim era uma resposta
e cada uma delas vinha aos pedaços
na insolência dos dias,
enquanto eu caminhava às cegas
tentando passar a vida a limpo...
Mas pra que tantas perguntas,
se nenhuma resposta nos satisfaz?
Qualquer desvio é intenção
onde os erros tem inicio
e se prolongam à margem das respostas,
a rigor,
como se o próprio dia inteiro
não fosse uma resposta falsa
para ancorarmos nosso existir
oco...


Luciano Fraga

domingo, fevereiro 02, 2014


SÃO AS FLORES QUE JAZEM DENTRO DO NADA


Baby, 
são os espinhos que eu evoco
para entender um pouco das rosas
quando recoberto de desconsolos;
essas pétalas orfãs
de uma metrópole obesa
que fede todo santo dia
e todos os santos recriminam
minhas contra reformas,
comiseração de lázaros
enquanto meus dias pulsam
e meus assombros apalpam úlceras;
nem os pães alimentam as saudades,
sigo despindo as horas
como se abrisse placentas, 
como se fechassem as portas 
de um enorme quintal
onde a felicidade antes de nascer
mascasse uma casca de romã
que eu sinto vontade de furtá-la...


Luciano Sobral

domingo, dezembro 29, 2013


RELUTÂNCIAS

Tu que és todo santo dia,
tu que cavas,
tu que és
só alegria...
Tu cansado,
tu calado,


tu que falas demais...
Tu pássaro que assobia,
tu que caminha há sóis,
tu que vagas,
tu que não volta atrás...
Tu que é e não é,
tu que não pode ser,
tu que não será jamais,
tu que já mastigou a dor de ser,
tu que tudo pode ser
dentro de nós,
tu que fostes o que nunca
amanheceu,
tu onde o riso desapareceu...


Luciano Sobral

quinta-feira, novembro 28, 2013

CANÇÃO DAS ESTRELAS PELO AVESSO

Seria a água,
seria o último beijo
à última porta,
ou o raio X dos bichos
aninhados em incertos nichos?
O que importa
é que você vem,
mesmo com a consciência arrasada,
vem sorvendo a vida
como um intruso
caminhando confuso
dentro da solidão...
O que importa
é que a sílaba esgarçada
AR-RUINADA
inscrita no vazio de um quarto
só eu posso ler.
O que importa
é que de tudo que não gosto
não posso dizer como não é...



Luciano Sobral

sexta-feira, outubro 25, 2013

A ÚLTIMA VEZ QUE TE VI

Por hoje
bastam-me os pedaços...
Nesse instante,
não tenho o menor interesse
em ouvir o que vem de dentro
do apartheid dos meus silêncios:
feio, bonito
bom ou mau,
nenhum adjetivo
meloso
aflitivo
afetivo;
nenhum grito defeituoso,
qualquer substantivo
que me deixe efusivo
ou fantasioso;
nenhuma palavra
que venha apaziguar
meu lado subversivo...
O que me deslumbra?
Na verdade,
já estou por demais satisfeito
com minhas penumbras...


Luciano Sobral

sexta-feira, setembro 13, 2013

SURTOS

 

O verde acinzentado
das mangueiras velhas
pendia para o pântano espelhado,
um excessivo hálito de sol
desaguava numa profusão
de sinceridades;
só assim pude vencer aqueles dias
que evolavam
entre morteiros e martírios...


Luciano Sobral

domingo, agosto 04, 2013



EM CASABLANCA


Tem dias
e tendências,
tem urgências
em forma de cansaço;
tem os traços
e saliências
da mesma cara
que sabia das fomes,
tem os nomes
e as contingências
que não posso controlar...
Tem os prazos,
e atrasos,
tem reentrâncias
que não posso penetrar,
tem alguma coisa vencida
no coração daquela menina
que me faz tanta falta,
ao menos para o que deveras sirvo...

Luciano Sobral

sábado, julho 20, 2013













SÓ AS FLÔRES NUTREM


Sagrada seja a serenidade
da língua que se impõe calada
a cada sílaba pronunciada
quando só você era meu verbo.
De que servem os dentes
se tudo passa longe dos risos
e tudo farta rente às lágrimas... 
Que o venta invista-se de quietude
pra fazer de mim um afogado
num bocado de teus silêncios...

                    

  Luciano Sobral

sexta-feira, junho 07, 2013

REZA ESPADA - CRUZ DAS ALMAS TEEN


Eu falei pra você,
nem tudo que é perfeito diverte;
a bola de neve que não derrete,
o pigarro como primeiro sinal...
Tudo pede uma solução;
as espadas proibidas,
a comida com excesso de sal,
os olhos dentro da noite perdida,
um milhão de notas feridas
esperando pela canção...
EU prometo te encontrar
lá,
onde a polidez perdeu as botas;
por isso fiz a trilha com meus dentes
que sorriem feio para o seu patrão:
um charlatão
que mal consegue decifrar
a cor da limalha que condenou meu coração...
E entre um licor e outro,
recorro à biblioteca entupir minhas veias com as traças,
afinal,
ninguém quer saber,
se posso ou não fazer da cruz de nossas almas
uma fogueira acesa?


Luciano Fraga

domingo, maio 26, 2013

ENQUANTO INVERNO
 

Estou só de passagem,
abrupta,
a palavra graciosa, molhada
transpira inteira
e incita um consolo adolescente,
ligeiro pensamento
indica o que bate à tua porta;
fêmeas retraídas
festejando o desespero do amor
que faz delas um esguicho
e não há paladar que contenha
a boca faminta desse amor;
pertinente é a infâmia
que me faz levantar pontualmente,
que me mata de surpresa
ao lançar-me aos pedaços
sobre as pedras...
Murmuro com veemência
(aquelas palavras)
que soam como vexames
entre tuas coxas,
sem saber definir o nome da coisa,
embora sinta o calor do casulo
como um incipiente inseto...
Há muitos dizeres por trás das retinas
dos mansos cavalos,
a ventania sacode minhas folhagens,
faz minha pira arder
e transforma o existir
em pequenas vitórias
sobre o corriqueiro negócio
que jamais haveremos de concluir,
mesmo após a deposição dos ossos...


Luciano Fraga